"Memórias Festivas: O Encanto da Festa de Sant'Ana em Anta"
Nos meus olhos, um brilho nostálgico toma forma enquanto relembro os tempos dourados da minha infância na pequena Vila de Anta. Era o mês de julho, um período especial que carregava consigo a promessa de dias mágicos. A espera ansiosa pela nossa Festa de Sant'Ana impregnava o ar com uma mistura de excitação e saudade antecipada.
Naquela época, os dias pareciam se arrastar preguiçosamente, prolongando a expectativa. Cada manhã surgia com a promessa de uma nova etapa nessa celebração anual em homenagem à padroeira da Vila. Porém, a espera ganhava um tom ainda mais vibrante quando as festas de Santo Antônio ocorriam nas comunidades vizinhas, sinalizando que a nossa própria festa estava se aproximando.
Recordo com carinho os primeiros sinais que anunciavam a chegada iminente da Festa de Sant'Ana. A barraca do Sr. Conterrâneo, com seus iô-iôs feitos de serragem, seus anéis de caveira do fantasma, erguia-se majestosamente no adro da capela, anunciando a contagem regressiva. Logo em seguida, surgiam a barraca de cocadas, um verdadeiro paraíso para os apreciadores de doces, e o parque, com sua roda gigante e o balanço de canoas, prometendo horas de diversão e risos compartilhados.
E então, finalmente, chegavam os dias da festa. Era como se todo o universo se alinhasse para proporcionar momentos inesquecíveis. O leilão de gado trazia um fervoroso ambiente de disputas amigáveis, com a energia contagiante da comunidade reunida em prol de sua padroeira. A procissão solene, carregada de devoção e fé, percorria as ruas da vila, levando consigo a esperança e as preces dos corações presentes.
A queima de fogos, uma sinfonia de luzes e cores, iluminava o céu noturno, enquanto os olhos maravilhados contemplavam esse espetáculo mágico. E como esquecer do festival antense da canção? Talentos locais e forasteiros se encontravam para emocionar e encantar com suas vozes, acordes e poesia. A gincana cultural movimentava a Vila, despertando a competição saudável entre os moradores, que demonstravam sua habilidade e conhecimento.
Mas talvez um dos momentos mais preciosos fosse a alvorada, anunciada pelas melodias harmoniosas das bandas militares. O sol ainda não havia despontado no horizonte, mas o coração já se enchia de alegria ao acordar com aquelas notas musicais que prenunciavam um dia especial. Era nesse instante que os laços de amizade se fortaleciam, sobretudo com aqueles que já haviam partido da Vila de Anta, mas retornavam todos os anos para esse grandioso encontro de alegria e memórias compartilhadas.
Hoje, o tempo deixou suas marcas, e a festa já não é exatamente como antes. O Sr. Conterrâneo e os brinquedos que nos fizeram sonhar em alturas e mares imaginários deram lugar a novas tradições. Mas o espírito daquela época continua vivo dentro de nós, resistindo ao passar dos anos. Os momentos de alegria e confraternização perdurarão para sempre em nossas lembranças e corações, trazendo um sorriso terno ao rosto e enchendo-nos de gratidão por ter sido parte desse tempo mágico em nossa querida Vila de Anta.
A Festa de Sant'Ana, embora possa ter se transformado com o tempo, ainda carrega consigo a essência de união, devoção e celebração. E assim, cada julho que chega traz consigo uma mistura de saudade e esperança, reacendendo a chama de um passado querido, mas também acendendo a centelha de um futuro promissor, onde novas memórias e encantamentos estão à espera, aguardando para serem vividos e guardados em nossos corações, assim como aqueles que nos trouxeram até aqui.